segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Morte versus carta da morte




A Morte é a carta nº 13 nos arcanos maiores do tarot, uma carta sempre temida por toda a gente, quase sempre com expressões como: Ai, Jesus! Meu Deus! Vai morrer alguém... etc. A verdade é que a carta da Morte representa sempre um recomeço, renovação, um antes e um depois, apenas isso e aliás considero uma carta óptima, quer dizer que algo de novo vai surgir. Pode sugerir de facto a morte mas num contexto muito diferente e em tantos anos de trabalho só muito raramente me sugeriu a morte literal de alguém (para ver isso teremos de ir aos arcanos menores mas falaremos nisso noutra altura). A propósito deste tema vou deixar aqui um texto da autoria de Paulo Coelho (escritor polémico e nem sempre compreendido por todos ) retirado do seu livro, O diário de um Mago:
" O homem é o único ser na natureza que tem consciência de que vai morrer. Por isso, e apenas por isso, tenho um profundo respeito pela raça humana, e acredito que o seu futuro será melhor do que o seu presente. Mesmo sabendo que os seus dias estão contados e que tudo irá acabar quando menos se espera, ele faz da vida uma luta digna de um ser eterno. O que as pessoas chamam de vaidade - deixar obras,  fazer com que o seu nome não seja esquecido - considero a máxima expressão da dignidade humana. Acontece que, criatura frágil, ele tenta sempre ocultar de si mesmo a grande certeza da Morte. Não vê que ela é que o motiva a fazer as melhores coisas da sua vida. Tem medo do passo no escuro, do grande terror do desconhecido, e a sua única maneira de vencer este medo é esquecer que os seus dias estão contados. Não percebe que, com a consciência da Morte, seria capaz de ousar muito mais, de ir muito mais longe nas suas conquistas diárias - porque não tem nada a perder, já que a Morte é inevitável.
A Morte é a nossa grande companheira, porque é ela que dá o verdadeiro sentido às nossas vidas..."
Depois da sua meditação sobre a Morte ao fazer o caminho de Santiago eis a sua impressão final:
" A partir de agora não ia mais permitir que eu deixasse para o futuro tudo aquilo que eu podia viver agora. Não me deixaria fugir das lutas da vida, e ia ajudar-me a travar o Bom Combate. Nunca mais, em momento algum, eu iria sentir-me ridículo ao fazer qualquer coisa. Porque ali estava ela a dizer que, quando pegasse nas minhas mãos para viajarmos até outros mundos, eu não devia carregar comigo o maior pecado de todos: o Arrependimento. Com a certeza da sua presença, a olhar o seu rosto gentil, tive a certeza de que ia beber com avidez da fonte de água viva que é esta existência."

Paulo Coelho, Diário de um Mago

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